terça-feira, janeiro 31, 2006
para terça e quarta - mingus
Esta semana, um dos que mais gosto, Charles Mingus. Um disco e algumas palavras (livro) - o chamado dois em um.
Quanto às palavras, um pouco da sua autobiografia, “Abaixo de Cão”:
"In other words I am three. One man stands forever in the middle, unconcerned, unmoved, watching, waiting to be allowed to express what he sees to the other two. The second man is like a frightened animal that attacks for fear of being attacked. Then there's an over-loving gentle person who lets people into the uttermost sacred temple of his being and he'll take insults and be trusting and sign contracts without reading them and get talked down to working cheap or for nothing, and when he realizes what's been done to him he feels like killing and destroying everything around him including himself for being so stupid. But he can't - he goes back inside himself. Which one is real? They're all real."
segunda-feira, janeiro 30, 2006
sexta-feira, janeiro 27, 2006
desejo
“Verificou-se que o desejo que um corpo sente por outro pode fazer diminuir a distância que os separa… os deslocamentos são da ordem dos 3 a 5 mícrons, podendo atingir valores bem mais elevados quando a massa do objecto desejado é reduzida e o desejo é intenso.”
“Este homem esteve encerrado num compartimento aquecido a 40ºC durante 24 horas… período durante o qual lhe foi vedada a ingestão de quaisquer líquidos.”
“Quando foi confrontado com uma garrafa de refrigerante provocou-lhe um deslocamento de 18 mícrons.”
As descobertas de Henk haveria de revelar-se funestas para a sua vida conjugal:
“Eu já calculava, nem um mícron…”
“Mas querida, pode ser uma deficiência do equipamento…”
José Carlos Fernandes, a Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto
proposta musical para hoje a amanhã
quinta-feira, janeiro 26, 2006
quarta-feira, janeiro 25, 2006
clorofila
fico-me por aqui em Junky. consciência vegetal.
livro às quartas - viagem ao mundo do sonho
Corto embarca no mundo do sonho, desta vez pela literatura. A meio caminho escapa de um encontro com a morte.
“Chegado a este ponto tudo pode ser invenção. Até o leitor pode ser fruto da nossa imaginação!”
A jornada prossegue… Parece que embarcamos em kerouac, num dos seus devaneios cósmicos:
“O mundo é estável apenas em virtude do secreto. Há em alguma parte, à sombra de um templo, personagens desconhecidas que projectam o peso do seu encantamento nos pratos da balança cósmica. Eu conheci alguns deles.”
… recorda-me o Coltrane de ontem… ou as descrições de jazz do kerouac.
Um encontro com o cálice sagrado e com o diabo… um julgamento… finalmente adormece…
Nas últimas aventuras de corto, a realidade funde-se com o sonho, sem explicação (ainda bem…). surreal. novos campos de aventura. gosto de acreditar que corto maltese foi tão real como este blog.
um abraço de parabéns para o meu primo jorge (outro sonhador).
terça-feira, janeiro 24, 2006
música às terças: Olatunji
As suas últimas gravações são para mim o expoente máximo daquilo que vou falando no Blog (Beat, Bop, outras paisagens…): Entre o espiritual e o cacofónico (palavra que não utilizo com um sentido depreciativo), a sua música conseguiu criar um universo próprio, inimitável. É como a escrita automática de Kerouac ou as colagens de Burroughs.
O Olatunji Concert é um dos expoentes máximos desta fase: it is definite evidence of the strength and clarity of Coltrane's vision, undimmed by the illness that was to take his life some three months later (BBC Jazz Review). Não foi o seu último concerto mas terá sido a última gravação.
Os primeiros segundos deste concerto e as primeiras páginas do Festim Nu provocaram-me a mesma impressão: qué isto????? Parecem ambos caóticos, desconexos, absurdos. Os dois vão um pouco para além daquilo que é música/escrita, criam e exploram novas regras, novas paisagens. São semelhantes no efeito, Coltrane é mais espiritual.
Olatunji é (era?) um centro de promoção da cultura Africana, na 125th Avenue, em Harlem.
Com Alice Coltrane ao piano (também dela iremos falar por aqui, noutros dias - a senhora tocava harpa de quando em vez...), Pharoah Sanders no sax tenor, Jimmy Garrison no contrabaixo e Rashid Ali na bateria (mais umas quantas percussões).
Começa com Ogunde e dispara automaticamente para fora deste mundo. Coltrane abre com as primeiras frases, ao que o sax de Sanders responde com os primeiros sinais da cacofonia que se iria seguir. Alice Coltrane vai criando por trás um ambiente verdadeiramente maravilhoso, uma barreira de som que dá suporte a tudo o resto. Depois, são os gritos alucinantes dos saxofones, até ao final do tema (28 minutos depois).
Segue-se My Favourite Things (um dos meus temas favoritos). O contrabaixo abre caminho de forma suave. A bateria entra e é braçal, industrial. O gritos aparecem de novo e a história repete-se, até ao fim do concerto.
É um registo verdadeiramente fantástico, pena a captação de som não ser um pouco melhor… (o piano por vezes desaparece, a bateria está demasiado presente).
segunda-feira, janeiro 23, 2006
existencialismo
sexta-feira, janeiro 20, 2006
gamanço
quinta-feira, janeiro 19, 2006
cinema às quintas (mais ou menos...)
Qual é o seu comércio perdido? Embora não seja embalsamador, pertence definitivamente a uma classe servil e tem algo a ver com os mortos. O seu corpo talvez contenha qualquer coisa – uma substância para prolongar a vida – da qual os seus amos periodicamente se abastecem. É tão especializado como os insectos para executar funções inconcebivelmente vis. William Burroughs, Junky
quarta-feira, janeiro 18, 2006
um livro à quarta - festim nu
Fui avançando por leituras alternativas (o que quer que isso seja) e cheguei a Festim Nu, sem conhecer nada de Burroughs. Já li o livro três vezes. Ao princípio tentei perceber. Depois fui-me deixando levar pelas paisagens e retratos… é melhor assim. O autor corta e copia excertos sem lógica aparente.
Um livro de que tinha alguma vergonha de ler no metro cheio de gente – os relatos são pesados, para quem ainda ia estando verdinho nestas coisas. Ficou o vício pelo autor e, mais tarde, este blog, que lhe é inteiramente dedicado.
Estou a ler todas as obras de Burroughs, desta vez de forma cronológica. Hei-de reler uma quarta vez… (vou em Interzone).
Para os mais interessados, fica um excerto (uma pequena história, com princípio e fim… quem viu o filme de Cronenberg deve recordar-se).
The Man Who Taught His Asshole to Talk
Did I ever tell you about the man who taught his ass to talk? His whole abdomen would move up and down you dig farting out the words. It was unlike anything I had ever heard.
This ass talk had sort of a gut frequency. It hit you right down there like you gotta go. You know when the old colon gives you the elbow and it feels sorta cold inside, and you know all you have to do is turn loose? Well this talking hit you right down there, a bubbly, thick stagnant sound, a sound you could smell.
This man worked for a carnival you dig, and to start with it was like a novelty ventri- liquist act. Real funny, too, at first. He had a number he called The Better Ole that was a scream, I tell you. I forget most of it but it was clever. Like, "Oh I say, are you still down there, old thing?"
"Nah I had to go relieve myself."
After a while the ass start talking on its own. He would go in without anything prepared and his ass would ad-lib and toss the gags back at him every time.
Then it developed sort of teeth-like little raspy in- curving hooks and start eating. He thought this was cute at first and built an act around it, but the asshole would eat its way through his pants and start talking on the street, shouting out it wanted equal rights. It would get drunk, too, and have crying jags nobody loved it and it wanted to be kissed same as any other mouth. Finally it talked all the time day and night, you could hear him for blocks screaming at it to shut up, and beating it with his fist, and sticking candles up it, but nothing did any good and the asshole said to him Its you who will shut up in the end. Not me. Because we dont need you around here any more. I can talk and eat AND shit.
After that he began waking up in the morning with a transparent jelly like a tadpoles tail all over his mouth. This jelly was what the scientists call un-D.T., Undifferentiated Tissue, which can grow into any kind of flesh on the human body. He would tear it off his mouth and the pieces would stick to his hands like burning gasoline jelly and grow there, grow anywhere on him a glob of it fell. So finally his mouth sealed over, and the whole head would have have amputated spontaneous- except for the EYES you dig. Thats one thing the asshole COULDNT do was see. It needed the eyes. But nerve connections were blocked and infiltrated and atrophied so the brain couldnt give orders any more. It was trapped in the skull, sealed off. For a while you could see the silent, helpless suffer- ing of the brain behind the eyes, then finally the brain must have died, because the eyes WENT OUT, and there was no more feeling in them than a crabs eyes on the end of a stalk.
terça-feira, janeiro 17, 2006
new connection no blitz (mas só um bocadinho)
parece que a minha banda voltou a sair no blitz (mas só um bocadinho). ainda não vi. alguém viu (página 21, foto laranja com botas azuis)?
é nestas alturas que deveríamos deixar a coisa…
… por outro lado, muito do universo dele acaba por estar nesta visão. Que venham as lagostas bêbedas e rabos falantes (amanhã há mais...).
um disco às terças
Adiram ao "disco às terças"!
segunda-feira, janeiro 16, 2006
sexta-feira, janeiro 13, 2006
pertença
forço muito do resto. conversinhas. faz-de-conta. luz artificial. passado algum tempo (muito normalmente) surge o mau feitio. a paciência vai-se. perdem-se as referências. fingir é tramado. começa-se a dizer o que se pensa, ou não. Silêncio. fuga à mania da perseguição, volta aos locais de pertença.
Uf.
a primeira pedrada de burroughs
Pintura: Burroughs (Carnival)
O efeito da morfina sente-se, primeiro, na parte de trás das pernas e, depois, atrás do pescoço, uma vaga relaxante que se propaga descontraindo os músculos de todos os ossos de modo que uma pessoa se sente a flutuar. É como boiar em água salgada.
Quando essa vaga relaxante começou a propagar-se através dos meus tecidos, fiquei com medo. Tinha a sensação de uma imagem horrível a mover-se fora do meu campo de visão. Virava a cabeça, mas não conseguia vê-la. Senti-me enjoado; deitei-me e fechei os olhos. Uma série de imagens passou diante dos meus olhos, como num filme. Um enorme bar de hotel iluminado a néon que foi ficando cada vez maior até incluir ruas, tráfego e obras nas ruas; uma empregada com um crânio numa bandeja; estrelas no céu límpido.
O impacto físico do temor da morte; a impossibilidade de respirar; o sangue a parar nas veias.
William Burroughs, Junky
quinta-feira, janeiro 12, 2006
quarta-feira, janeiro 11, 2006
terça-feira, janeiro 10, 2006
Estou bem aonde não estou…
Noutro lugar, noutro tempo. Adiamos por vezes a existência. Dificuldades de enquadramento no presente e na geografia do momento. No fundo tempo e espaço não são assim tão importantes. Que se fodam os dois.
segunda-feira, janeiro 09, 2006
pj harvey
tens um dos meus albúns preferidos, 4 track demos
cru, visceral, sensual
um punch de pj no seu melhor...
vejam mais aqui
sexta-feira, janeiro 06, 2006
já agora...
... a ver se é desta... concertos... gravações... mais concertos... (a ver se é desta que vamos ao Porto) new connection em força este ano
quinta-feira, janeiro 05, 2006
ano rato
coisas boas, comunitárias e generosas. este será o ano dos ratos e afins. inspirados em Burroughs, e a lógica do vírus palavra ou imagem.
fotos: banksy
quarta-feira, janeiro 04, 2006
jazz manel
terça-feira, janeiro 03, 2006
meter os pés
dois segundos antes uma voz irritada “que metro tão feio, o nosso é muito melhor” (nacionalismo entupidos…)
normalmente a (má) sorte não me tem dado estes dois segundos providenciais: sempre que digo mal de alguma coisa (o que acontece com alguma frequência...) tenho a pontaria de ofender uma pessoa que por acaso esteja mesmo ao meu lado.
exemplo: troca de prendas de natal. almoço de trabalho num barco no douro. “foda-se, uma merda de um livro de psicologia. foi de certeza o cabrão de um psicólogo…” a J., mesmo ao meu lado, ruborizou e olhou para o chão… tento ter mais cuidado mas de vez em vez lá me sai uma destas… chama-se a isso falar de mais, ser um bocadinho parvo e ter um bocado de azar…