música às terças: Olatunji
As suas últimas gravações são para mim o expoente máximo daquilo que vou falando no Blog (Beat, Bop, outras paisagens…): Entre o espiritual e o cacofónico (palavra que não utilizo com um sentido depreciativo), a sua música conseguiu criar um universo próprio, inimitável. É como a escrita automática de Kerouac ou as colagens de Burroughs.
O Olatunji Concert é um dos expoentes máximos desta fase: it is definite evidence of the strength and clarity of Coltrane's vision, undimmed by the illness that was to take his life some three months later (BBC Jazz Review). Não foi o seu último concerto mas terá sido a última gravação.
Os primeiros segundos deste concerto e as primeiras páginas do Festim Nu provocaram-me a mesma impressão: qué isto????? Parecem ambos caóticos, desconexos, absurdos. Os dois vão um pouco para além daquilo que é música/escrita, criam e exploram novas regras, novas paisagens. São semelhantes no efeito, Coltrane é mais espiritual.
Olatunji é (era?) um centro de promoção da cultura Africana, na 125th Avenue, em Harlem.
Com Alice Coltrane ao piano (também dela iremos falar por aqui, noutros dias - a senhora tocava harpa de quando em vez...), Pharoah Sanders no sax tenor, Jimmy Garrison no contrabaixo e Rashid Ali na bateria (mais umas quantas percussões).
Começa com Ogunde e dispara automaticamente para fora deste mundo. Coltrane abre com as primeiras frases, ao que o sax de Sanders responde com os primeiros sinais da cacofonia que se iria seguir. Alice Coltrane vai criando por trás um ambiente verdadeiramente maravilhoso, uma barreira de som que dá suporte a tudo o resto. Depois, são os gritos alucinantes dos saxofones, até ao final do tema (28 minutos depois).
Segue-se My Favourite Things (um dos meus temas favoritos). O contrabaixo abre caminho de forma suave. A bateria entra e é braçal, industrial. O gritos aparecem de novo e a história repete-se, até ao fim do concerto.
É um registo verdadeiramente fantástico, pena a captação de som não ser um pouco melhor… (o piano por vezes desaparece, a bateria está demasiado presente).
A não perder. Uma viagem alucinante. Consigo imaginar Kerouac, a assistir, a captar para mais tarde nos relatar a experiência.
Tem sido um percurso, retirar da aparente confusão algo que é profundamente belo. Não vale a pena tentar perceber... basta deixarmo-nos ir.
14 Comments:
Olá!
Gosto muito de John Coltrane. Para mim, ele e o Miles Davis personificam o jazz, apesar de serem estilos muito diferentes.
E ninguém toca My Favourite Things como o Coltrane. Ai não, não!
bela musica...bom dia
m.m - pois não... mas esta versão é bem "pesada"... para além dele gosto muito de Mingus (mais clássico). vou tentar passar a falar mais de jazz (gosto tanto, ouço tanto...)
kim prisu - bem vindo de volta, ainda bem que voltaste a escrever. boas propostas!
When the dog bites
When the bee stings
When I'm feeling sad
I simply remember
My favorite things
And then I don't feel so bad.
Uma lança africana nos EUA...
merdinhas: a melodia é fantástica. e a sua anulação também.
jazz manel: sim, dentro do espírito de libertação e de direitos humanos da altura.
estranho... retiro prazer de tocar jazz, mas não de ouvir. chamem-me esquisito.
Apesar de não ser um fã do jazz, reconheço a indiscutivel importância de Coltrane, Miles Davis, Dizzy Gillespie, Mingus entre outros, na música enquanto algo de rico harmonicamente. Passou, e ainda passa um pouco por aí, a evolução do próprio conceito de música.
Boa seleccção. :)
ivan: eu é mais o contrário... o que tocas???
thor: sim!
pecola: obrigado!
Grande músico, o Coltrane. Aliás, uma ilustre família. A ouvir e re-ouvir
guitarra, baixo, um bocado de contrabaixo.
contrabaixo é o meu instrumento preferido... se tivesse mais tempo aprendia... um dia. tocas ao vivo?
yardbird: obrigado pela visita e pelas palavras. gostei do teu canto. abraço. aparece.
muito bom o coltrane
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