Já não me apetece muito
Escrever pohesias
Se fosse como dantes
Fá-las-ia abundantes
Mas sinto-me muito velho
Sinto-me muito sério
Sinto-me consciencioso
Sinto-me preguicioso
Boris Vian, Canções e Poemas
Há muitos aspectos em que Kerouac me influenciou, mas nada terá sido tão significativo como as linhas que apresentei esta semana (em "Bop"), relatando um espectáculo de jazz (bop - bop, beat,...-). O músico transcende-se, passa para lá das suas próprias capacidades e cria um momento único: a criação.
É nisso que a escrita de alguns autores associados à Beat Generation assenta, e é esse o universo por onde viaja a música de Coltrane (o próximo personagem da Interzone...).
(Foto: The Beat Page)
Jack Kerouac nasceu a 12 de Março de 1922 em Lowell, Massachusetts. Através da sua obra mais significativa, Pela Estrada Fora (On the Road) , Kerouac torna-se o principal representante do Beat Movement (do qual falarei noutro dia).
Em On the Road, essencialmente autobiográfico, o autor percorre os EUA à boleia com o seu amigo Dean Moriarty (inspirado em Neal Cassady) e apresenta os relacionamentos e experiências vividos, baseados num estilo de vida não materialista e, ao mesmo tempo, místico.
Aprendeu tardiamente o Inglês (apenas quando entrou na escola), já que os seus pais eram Canadianos francófonos. Chegou a referir que o Inglês não era a sua linguagem, o seu pensamento ainda funcionava em joual, o seu dialecto. Kerouac era Canuck, grupo referenciado na sua cidade natal como blancs nègres.
Passou pela marinha, de onde foi afastado devido à sua personalidade esquizóide.Seguidamente enveredou pela marinha mercante. Mais tarde obtou por seguir a "carreira" de vagabundo, a partir da qual se inspirou para a maioria das suas obras.
O seu primeiro livro foi publicado em 1950 (The Town and the City), no qual o autor demonstra rejeitar os então dogmas da literatura. On the Road terá sido escrito em menos de três semanas. A sua escrita é espontânea, por vezes automática, "free of hypocrisy".
"What a man most wishes to hide, revise and unsay is precisely what literature is waiting and bleeding for. This was the veritable fire ordeal when you can't go back...all of it innocent go-ahead confession... making the mind slave of the tongue with no chance to lie or reelaborate, a style capable of delivering telepathic shock and meaning excitement."
A sua energia chocou a comunidade de autores de então mas acabou por lhe conferir o merecido reconhecimento (ainda em vida...).
A Beat Generation teve uma influência decisiva em diversas áreas, desde a música à literatura. Outros companheiros, referência neste movimento, são Ginsberg, Corso, Burroughs (de que muito irei falar...) e Snyder.
Como ainda estamos em fase de apresentações, aquele ali atrás sou eu, a fazer o que mais gosto...