experiências partilhadas...

Estendi a minha mão na direcção da vitrine. Toquei-lhe. E percebi que todos os passos que dera até então tinham sido silenciosos. A vibração entrou-me pela mão, pelo braço, espalhou-se por cada artéria, explodi mil vezes, fragmentei-me, fui sacudida por ondas eléctricas azuis, vermelhas, espasmos incontrolados, infindáveis. Um orgasmo vibrante de cacofonias.

Bêbados de som. Os três músicos surdos, fechados numa vitrina por toda a eternidade, sem saber como ou porquê, divagam automaticamente por entre batidas desconhecidas, ressonâncias imprevisíveis, gritos desesperados, estrondos e ruídos alucinatórios. Têm liberdade para tocar por toda a eternidade, alheios à tragédia. A melodia perfeita é destilada no calor da colisão da banda, e nunca a poderão ouvir. A não ser no disco riscado que gira, contínuo, na mente de cada um.

O texto é do blog "a angústia da mente em branco". Os três músicos surdos é gente conhecida. A do orgasmo também. Experiências cruzadas...