livro - o Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante

Dimiti Sikorsky nunca compreendeu porque se fecham as pessoas dentro de carros, durante horas a fio, com o rádio a balbuciar inanidades a um volume absurdo.

Nem porque estão as televisões ligadas 24h por dia. “Uma cloaca de histeria e vulgaridade.”

Nem porque há música em todos os lugares e circunstâncias embora ninguém a escute. “A distracção é a grande força dissolvente do nosso tempo.”

Ou porque tagarelam as pessoas sem cessar. “parece que vem aí chuva” “este ano não há verão” “é uma vergonha” “não me lembro de alguma vez ter chovido assim em Abril”.

Porque se comprazem em narrar detalhadamente os mais ínfimos e irrelevantes acontecimentos. “foi na avenida oppenheimer em frente aos armazéns zlot… veio uma rajada de vento e virou-me o guarda-chuva ao contrário”.

Porque repetem vezes sem conta os mesmos argumentos. “parece que vem aí chuva” “não me lembro de alguma vez ter chovido assim em Maio”.

Porque insistem em dar a conhecer ao mundo os seus irrisórios pontos de vista. “ninguém me tira da cabeça que a culpa deste desconcerto é desses discos voadores que andam por aí”.

O que leva afinal as pessoas a procurarem estar imersas numa torrente ininterrupta de sons e palavras. “este ano não temos verão” “a culpa é do el nino”.


“Tudo isto não é mais que uma tentativa de evitar que a morte tenha a última palavra… só que à morte pouco lhe interessa a que cabe a última palavra… pois dela será sempre o último silêncio.”

A última palavra, José Carlos Fernandes


Fez-me pensar um pouco no universo bloguiano…